A socióloga Patricia Hill Collins, autora que consolidou o conceito de interseccionalidade para designar a confluência das lutas contra patriarcalismo, racismo e exclusão de classe, deu a primeira das quatro aulas públicas previstas para sua estadia no Brasil na noite desta quarta-feira (17/5)
O teatro William Silva de Moraes foi reinaugurado na ocasião e esteve próximo da lotação máxima. As 800 vagas para inscrição no evento se esgotaram e sobraram poucos assentos no teatro de 753 lugares, localizado no campus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Collins visita o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unifesp entre maio e junho, por meio do Programa de Especialistas da Fundação Fulbright, com apoio da Associação Nacional de Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). A visita incluirá também a realização de palestras e o desenvolvimento de outras atividades para estreitar seus laços com o Brasil e com o PPG em Ciências Sociais da EFLCH/Unifesp.
A primeira aula da socióloga, que é professora emérita da Universidade de Maryland (EUA), teve o título “Por que feminismo negro?”. Na palestra e na sessão de perguntas que se seguiu, Patricia Hill Collins descreveu os movimentos feministas de diferentes partes do mundo como embrião de movimentos plurais de luta pela liberdade. “Há pontos em comum entre esses feminismos negros, mas eles devem ser entendidos em sua especificidade nacional”, defendeu.
A socióloga mencionou brasileiras como Lélia González, Marielle Franco, Conceição Evaristo e Djamila Ribeiro como intelectuais e ativistas com contribuição para a luta pela liberdade. Disse que está aprendendo português – chegou a propor pequenos diálogos com o público nessa língua – e quer ter a oportunidade de conhecer melhor as obras e atuação dessas mulheres negras.
Na mesa de abertura, estavam presentes Patrícia Domenico Grijó, gerente de programas do Programa Fulbright em São Paulo, Jaqueline Lima Santos, diretora de programas sobre políticas de gênero e equidade social da Friedrich Ebert Stiftung, Mariana Chaguri, secretária-executiva da Anpocs, Bruno Konder Comparato, diretor acadêmico do campus Guarulhos, e Melvina Afra Mendes de Araújo, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unifesp. A Reitoria e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da universidade foram representadas pelo pró-reitor adjunto, Fernando Atique. Esses setores e entidades apoiaram a realização do evento.
As próximas aulas públicas, presenciais, gratuitas e com tradução simultânea estão com inscrições abertas. Os encontros acontecem no Teatro William Silva de Moraes, na Estrada do Caminho Velho, 333, Jardim Nova Cidade, Guarulhos. Não há transmissão ao vivo, mas as aulas estão sendo gravadas e serão disponibilizadas no futuro próximo.
Confira as datas, horários e link para inscrição:
2ª Aula pública - Interseccionalidade e solidariedade política
Data: 25 de maio (quinta-feira)
Horário: das 17h às 20h
Inscrições: de 1º/5/2023 a 25/5/2023
3ª Aula pública - Afiando as bordas críticas da interseccionalidade
Data: 30 de maio (terça-feira)
Horário: das 17h às 20h
Inscrições: 1º/5/2023 a 30/5/2023
4ª Aula pública - Intersecções letais: raça, gênero e violência
Data: 05 de junho (segunda-feira)
Horário: das 17h às 20h
Inscrições: 1º/5/2023 a 5/6/2023
Link para inscrição: https://sistemas.unifesp.br/acad/proec-siex/index.php
Sobre Patricia Hill Collins
Patricia Hill Collins é referência central para os estudos contemporâneos sobre desigualdade e ganhou destaque com seu livro Black Feminist Thought, de 1990 (em português, Pensamento Feminista Negro, publicado pela editora Boitempo), que venceu diversões prêmios, em especial o da Associação de Sociologia dos Estados Unidos. Na obra, Collins apresenta sua teoria da interseccionalidade das formas de opressão – raça, classe, gênero e sexualidade – argumentando que essas ocorrem simultaneamente, constituindo-se como forças mutuamente constitutivas que compõem um sistema abrangente de poder.
A partir dessa ideia, multiplicaram-se os estudos em que, em lugar de apostar em uma hierarquia das assimetrias e condições de exclusão, investigadores(as) sociais passaram a entender as questões raciais, de classe, de gênero e de sexualidade como interativas e complementares. Collins também contribuiu para reforçar a visão de que intelectuais não ocupam espaço neutro, mas produzem discursos e conhecimento a partir do lugar que ocupam.
Em sua pesquisa recente, Collins sugere que a interseccionalidade seja vista como uma teoria social crítica capaz de abordar problemas sociais contemporâneos e apontar as mudanças necessárias para solucioná-los. Em Bem mais que ideias (Boitempo, 2022), a socióloga apresenta um conjunto de ferramentas analíticas para impulsionar essa mudança.
Collins atualmente é professora emérita da Universidade de Maryland. Entre as realizações de sua carreira, repleta de reconhecimento e prêmios, ela foi a 100º presidenta da Associação de Sociologia dos EUA e a primeira mulher afro-americana a ocupar o posto. A visita da pesquisadora entre maio e junho deste ano deverá contar com eventos abertos ao público, que serão divulgados pelo portal da Unifesp e pelo site do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da EFLCH/Unifesp.