Segunda, 17 Fevereiro 2020 11:41

Opinião: Longevidade e funcionalidade

Com o envelhecimento da população, as ações de promoção de saúde passam a ser uma das principais armas para se tentar prevenir ou amenizar as perdas funcionais de idosos

Por Luiz Roberto Ramos*

Quatro idosos caminhando
(Imagem ilustrativa - sk/Unsplash)

O futuro do sistema de saúde brasileiro, tanto público como privado, passa pelo equacionamento das ações em saúde voltadas para a crescente população de idosos. O envelhecimento populacional e a consequente emergência das doenças crônicas propiciaram um novo paradigma em saúde, no qual não podemos almejar a cura, e sim o controle da evolução dessas doenças visando, basicamente, à manutenção da capacidade funcional, entendida como a capacidade de manter uma vida independente e autônoma na comunidade.

As perdas funcionais que acometem os idosos são, sabidamente, o principal fator de risco para morte e institucionalização dessa população. Neste contexto, as ações de promoção de saúde passam a ser uma das principais armas para se tentar prevenir ou amenizar a perda da funcionalidade dos idosos que, mesmo já sendo assistidos do ponto de vista médico, ainda assim tendem, por força do avançar da idade e da evolução dessas doenças, a perder capacidade funcional ao longo do tempo.

O Ministério da Saúde, na sua política de gerenciamento das doenças crônicas, enfatiza a necessidade de promover hábitos de vida saudáveis e controlar diversos fatores que podem comprometer a capacidade funcional desses idosos como, por exemplo, o sedentarismo, a alimentação desbalanceada e os hábitos nocivos como tabagismo e o etilismo. Várias ações de promoção da saúde vêm sendo desenvolvidas para aumentar atividade física da população, por exemplo, porém, pouco se sabe sobre a eficácia dessas ações na prevenção das perdas funcionais e, consequentemente, na prevenção da mortalidade precoce ou da institucionalização do idoso incapacitado. A avaliação da efetividade das ações de promoção da saúde em idosos requer a integração de diversas áreas do conhecimento, várias metodologias de investigação diferentes e especializadas e um bom mecanismo de controle e seguimento da população estudada.

Há quase três décadas, uma coorte populacional de idosos residentes na Vila Clementino, bairro da zona sul de São Paulo, é acompanhada clínica e epidemiologicamente por uma equipe interdisciplinar, no Centro de Estudos do Envelhecimento da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), por meio do Projeto Epidoso. Esse estudo, iniciado em 1991, tem promovido a colaboração com inúmeras disciplinas e departamentos acadêmicos, dentro e fora da Unifesp, gerando inúmeras teses e trabalhos publicados. Essa colaboração pregressa, translacional na sua essência, possibilitou que hoje possamos contar com a capacitação teórica, metodológica técnica e profissional necessárias para um projeto de promoção da saúde em idosos visando minimizar as perdas funcionais inerentes ao envelhecimento.

A Unifesp definiu a Longevidade como um dos eixos norteadores do desenvolvimento institucional e um dos temas prioritários indicados para a internacionalização da pesquisa na universidade, via o Programa Institucional de Internacionalização (Capes-PrInt), que incentiva a formação de redes de pesquisas internacionais para aprimorar a qualidade da produção acadêmica vinculadas à pós-graduação brasileira. No tema Longevidade, um dos projetos aprovados foi “Promoção da saúde visando prevenir as perdas funcionais do envelhecimento”. Um projeto interdisciplinar que integra as várias linhas de pesquisa existentes na universidade. Linhas que convergem para objetivo de experimentar Longevidade com Funcionalidade, tema do Simpósio Internacional realizado em março deste ano.

Neste simpósio, houve a colaboração de três professores convidados da Universidade do Missouri (EUA), parceira cadastrada no Capes-PrInt/Unifesp que, na pessoa do professor Eduardo Simões colabora há décadas com a coorte Epidoso. Simões é um expert em avaliações de intervenções para a promoção da saúde populacional e discutirá aspectos metodológicos e conceituais com base em seus estudos. Com ele, virão ainda mais dois professores do seu departamento: o professor Mihail Popescu, especialista em monitoramento a distância para fins de saúde, uma ferramenta para estabelecer coortes virtuais; e a professora Armineh Zohrabian, pesquisadora na área da economia do comportamento que estuda a arquitetura da decisão e sua aplicação na promoção da saúde.

Ainda tivemos, como convidados nacionais, a docente da UFSC Eleonora D ́Orsi, que tem projeto Capes-PrInt voltado para o tema mobilidade urbana e envelhecimento saudável e o docente da UNISUL André Junqueira Xavier, que trabalha com função cognitiva e envelhecimento. Internamente, contamos com a colaboração de professores de diversas disciplinas: Prof.ª Valquíria Bueno (Imunologia), Prof.ª Cecília Martinelli (Fonoaudiologia), Prof.ª Maysa Cendoroglo (Geriatria), Prof. Victor Dourado (Ciências do Movimento) e da pós-graduanda Ana Claudia Bonilha (Saúde Coletiva). Convidamos a todos os interessados, estudantes, docentes e técnicos, tanto da Unifesp quanto externos à universidade.

*Professor titular do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo

As opiniões expressas neste artigo não representam a posição oficial da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

 

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