Campus Baixada Santista promove a ExpoUnifesp 2019
Na mira da “agulha”
Vacina experimental, capaz de erradicar o parasita Trypanosoma cruzi em camundongos, será testada em animais de maior porte e posteriormente em humanos
* As imagens acima são de autoria de Luiz Henrique Gagliani, docente do Centro Universitário Lusíada
Texto: Ana Cristina Cocolo
Pesquisadores do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista obtiveram resultados promissores de uma vacina criada para combater o Trypanosoma cruzi, parasita causador da Doença de Chagas. Ela está entre uma das quatro principais causas de morte no país pelas chamadas doenças negligenciadas – que são aquelas causadas por agentes infecciosos ou parasitas e consideradas endêmicas em populações de baixa renda.
Atualmente os indivíduos infectados contam apenas com dois medicamentos quimioterápicos, cuja ação é variável, mostrando-se mais eficazes na fase aguda da doença. “Os medicamentos atualmente disponíveis estão há 40 anos no mercado e uma nova abordagem terapêutica se faz urgentemente necessária e acredito que estamos no caminho certo para o desenvolvimento de um método vacinal eficaz que poderá beneficiar milhões de pessoas cronicamente infectadas em nosso país”, afirma Flávia Andressa Mazzuco Pidone, autora do estudo apresentado como tese de doutorado no Programa Interdisciplinar em Ciências do ISS/Unifesp.
A vacina, testada em camundongos, conseguiu erradicar a doença dos animais a partir do estresse oxidativo (excesso de radicais livres na célula do agente infeccioso), da genotoxicidade (efeitos tóxicos sobre o material genético do parasita) e do aumento da resposta inflamatória (quebra da barreira de defesa do microrganismo). Esse conjunto de ações gerou uma potente resposta imune celular, marcada presença de radicais livres, dano ao DNA e aumento da resposta inflamatória nas células hospedeiras.
De acordo com Pidone, tanto a vacinação profilática (feita antes da infecção) quanto a vacinação terapêutica (feita após a infecção) foi capaz de promover uma resposta contra o parasita, impedindo a morte dos animais infectados. O trabalho foi orientado por Daniel Araki Ribeiro e José Ronnie Carvalho de Vasconcelos, docentes no Departamento de Biociências da Unifesp.
Pidone explica que outros grupos de pesquisadores testaram vacinas com antígenos do parasita, sem muito sucesso. “Acreditamos que o sucesso obtido em nosso estudo se dá pelo fato de estarmos trabalhando com diversos protocolos vacinais que utilizam, principalmente, os antígenos TS (transialidase) e ASP-2 (proteína 2 da superfície de amastigota), cobrindo tanto a forma infectante do patógeno, como a forma replicativa, respectivamente”, diz. “Associado a isso, temos o diferencial de utilizarmos vacinas com o gene ASP-2 em camundongos extremamente susceptíveis à infecção do Trypanosoma cruzi, como é o caso da linhagem chamada A/Sn.
Essa linhagem, segundo a pesquisadora, responde muito mal à infecção por esse parasita porque a resposta imunológica apresentada pelo animal ocorre muito depois do pico da parasitemia. Ou seja, quando a resposta imune surge, já houve uma grande colonização tecidual parasitária.
Pidone afirma que uma das dificuldades em ainda não se ter descoberto uma vacina contra a doença é o fato de que o parasita utiliza-se de vários mecanismos de evasão da resposta imune do hospedeiro, que vão desde sua habilidade de diferenciação em formas intracelulares (amastigotas), que se utilizam dessa característica para escapar da ação dos anticorpos, até sua incrível capacidade de variação antigênica. “Outra estratégia adaptativa de sobrevivência do Trypanosoma cruzi encontra-se na colonização de tecidos alvos, como o tecido adiposo”, diz. “Lá o parasita persiste em estado latente, evitando as defesas do hospedeiro”.
O próximo passo para testar a eficácia da vacina, antes de chegar a ser usada em seres humanos, já está em andamento. Para a execução da chamada fase pré-clínica, na qual são utilizados animais de maior porte, Pidone conta com a colaboração de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCT-V).
Além dessa pesquisa, Pidone também teve aprovado um projeto pelo CNPq (MCTIC/CNPq nº28/2018) no qual busca identificar os genes que estão relacionados com o processo de morte do tecido cardíaco de animais infectados com Trypasoma cruzi.
Flávia Andressa Mazzuco Pidone, autora do estudo (Imagem: Giovana Jamar)
Ninhos de amastigota em tecido hepático de camundongos infectados com Trypanosoma cruzi e vacinados (Imagem: Arquivo pessoal)
Imunidade celular
A vacina foi testada em 16 camundongos, divididos em quarto grupos distintos: Grupo Controle (1): os animais não passaram por nenhum tratamento terapêutico ou foram infectados; Grupo Infectado (2): os animais foram infectados com o Trypanosoma cruzi; Grupo Imunizado (3): os animais foram imunizados com a vacina, por via intramuscular; Grupo Imunizado e Infectado (4): os animais foram imunizados com a vacina e infectados com o parasita no mesmo dia.
A quantificação da presença de parasitas vivos no sangue dos animais foi realizada diariamente, a partir do nono até o 13º dia após a infecção. Durante esse período observou-se que houve uma diminuição significativa na quantidade de parasitas por mililitro de sangue no grupo que recebeu a vacina e foi infectado, quando comparados aos animais que foram apenas infectados.
Nas análises histopatológicas do coração e do fígado, foi possível identificar considerável número de ninhos de amastigota (uma das formas de apresentação do Trypanosoma cruzi) em tecido cardíaco e no tecido do fígado no grupo dos animais que foram infectados (Grupo 2). Já no grupo dos animais (Grupo 4) que foram imunizados com a vacina e infectados no mesmo dia, notou-se drástica diminuição do número de ninhos presentes. Os animais do grupo controle (Grupo 1) e do grupo que foi apenas imunizado (Grupo 3) não apresentaram alterações morfológicas perceptíveis e não detectaram-se a presença de ninhos.
Outras análises também revelaram danos no DNA em células sanguíneas dos camundongos infectados com Trypanosoma cruzi e imunizados, mostrando que a vacina potencializa a genotoxicidade – efeitos tóxicos sobre o material genético – sobre essas células, mecanismo esse importante para erradicar o parasita.
Quarta causa de morte entre todas as doenças negligenciadas
Chagas é uma doença tropical causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, cujo vetor (veículo de transmissão) é o inseto conhecido como barbeiro. Endêmica em 21 países da América Latina, pertence a uma vasta lista de doenças consideradas negligenciadas pela Organização Mundial da Saúde, já que menos de 1% das pessoas com o problema recebem o tratamento antiparasitário.
Durante a fase crônica da infecção, 30% das pessoas desenvolvem problemas cardíacos, que podem levar à morte súbita, e 10% problemas digestivos e/ou neurológicos graves e incuráveis.
De acordo com a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDI – sigla em inglês para Drugs for Neglected Diseases Iniciative), organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas, atualmente há entre seis e oito milhões de pessoas infectadas somente na América Latina e outras 70 milhões correm o risco de contrair a doença. Os dados apontam ainda que aproximadamente 14 mil pessoas perdem suas vidas todos os anos nessa região em razão da Doença de Chagas e que menos de 10% das pessoas com o problema são diagnosticadas.
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que haja cerca de um milhão de pessoas infectadas pelo parasita. No entanto, cita estudos recentes que apontam um número bem maior: entre 1,9 milhões e 4,6 milhões, devido à taxa de mortalidade por Doença de Chagas estar entre as quatro maiores causas de morte por doenças infecciosas e parasitárias no país.
Apesar das estratégias de controle e prevenção, ainda é grande o risco de transmissão pelo inseto. Entre 2008 e 2017, foram registrados casos da doença na sua forma aguda (quando não há presença de sintomas ou quando os mesmos – que podem incluir erupções na pele, febre, diarreia, entre outros – duram de dois a quatro meses) em quase todos os estados da federação. A região Norte, no entanto, concentra a maior parte deles (95%), sendo o Estado do Pará o responsável por 83% desses registros.
Formas de transmissão da doença
Por vetor: por meio das fezes infectadas do inseto barbeiro que defeca ao lado de sua picada e, quando a pessoa coça o local, faz com que as fezes entrem na corrente sanguínea.
Transfusão de sangue ou transplante de órgãos: apesar do risco, houve queda significativa dessa forma de transmissão devido ao melhor controle de qualidade nos bancos de sangue.
Oral: ingestão de alimentos contaminados com o inseto ou suas fezes (açaí, cana de açúcar, entre outros). Essa forma de transmissão, que ocorre principalmente na região Amazônica, pode ser uma das mais graves devido ao alto número de parasitas que entram no organismo.
Materna: a mãe transmite ao filho durante a gestação.
Fonte: Ministério da Saúde e DNDI
Artigos relacionados:
RIBEIRO, Flávia Andressa Pidone; PONTES, Camila; GAZZINELLI, Ricardo T.; BRUNA-ROMERO, Oscar; LAZZARIN, Mariana Cruz; SANTOS, José Fontes dos; OLIVEIRA, Flávia de; PISANI, Luciana Pellegrini; VASCONCELOS, José Ronnie Carvalho de; RIBEIRO, Daniel Araki. Therapeutic effects of vaccine derived from amastigote surface protein-2 (ASP-2) against Chagas disease in mouse liver. Cytokine, v. 113, p. 285-290, jan. 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.cyto.2018.07.017 >. Acesso em: 27 fev. 2019.
RIBEIRO, Flávia Andressa Pidone; PONTES, Camila; MACHADO, Alexandre De M. V.; BRUNA-ROMERO, Oscar; QUINTANA, Hananiah T.; OLIVEIRA, Flávia de; VASCONCELOS, José Ronnie Carvalho de; RIBEIRO; Daniel Araki. Therapeutical effects of vaccine from Trypanosoma cruzi amastigote surface protein 2 by simultaneous inoculation with live parasites. Journal of Cellular Biochemistry, v. 120, n. 3, p. 3.373-3.383, mar. 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1002/jcb.27608 >. Acesso em: 27 fev. 2019.
Tese relacionada:
PIDONE, Flávia Andressa Mazzuco. Eficácia da vacina com o gene da ASP-2 de Trypanosoma cruzi em múltiplos órgãos contra a Doença De Chagas em camundongos: aspectos histopatológicos, inflamatórios e toxicogenômicos. 2018. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde) – Instituto de Saúde e Sociedade, Universidade Federal de São Paulo, Santos.
Brasil subexplora biodiversidade alimentar
Pesquisadores do ISS/Unifesp que participam de projeto da ONU identificam nove frutos brasileiros que fornecem 84 compostos bioativos, incluindo fenóis, carotenoides, antocianinas e iridoides, mas são pouco consumidos no país
Primeira linha: araçá, cagaita e cambuci; na segunda, jabuticaba, jatobá e jenipapo; na terceira, mangaba, pequi e pitanga
Texto: Ana Cristina Cocolo
Das mais de 50 mil plantas comestíveis disponíveis em todo o mundo, apenas 15 delas, principalmente o arroz, o milho e o trigo, são responsáveis por 90% das demandas de energia dos seres humanos, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla em inglês). E o Brasil, que é berço de 18% de toda a biodiversidade vegetal do planeta, ainda possui uma parcela considerável da população que sofre de sérias deficiências nutricionais, obesidade e doenças crônicas.
Um grande projeto nomeado Biodiversidade para Alimentação e Nutrição (Biodiversity for Food and Nutrition), liderado pela ONU Meio Ambiente em parceria com a Biodiversity International, a FAO e os governos do Brasil, Quênia, Sri Lanka e Turquia, prevê, com uma iniciativa global inédita, desenvolver e testar uma abordagem multissetorial que envolva pesquisas, políticas, mercados, conscientização, uso sustentável e integrado da biodiversidade agrícola, entre outras práticas, para melhorar a nutrição mundial.
Um dos vários estudos desenvolvidos pelos pesquisadores brasileiros que participam do projeto avaliou os compostos bioativos – que têm um efeito sobre organismos vivos, tecidos ou células – de nove frutos brasileiros pouco explorados no país: a pitanga (Eugenia uniflora), a cagaita (Eugenia dysenterica), o araçá (Psidium cattleianum), jenipapo (Genipa americana), cambuci (Campomanesia phaea), pequi (Caryocar brasiliense), jabuticaba (Plinia cauliflora), jatobá (Hymenaea courbaril) e mangaba (Hancornia speciosa).
No total, foram identificados 84 compostos bioativos, entre eles compostos fenólicos, carotenoides, antocianinas e iridoides. Os carotenoides e as antocianinas são pigmentos naturais não produzidos em nosso organismo e extremamente importantes na alimentação humana; apresentam diversas funções fisiológicas, atuando no fortalecimento do sistema imunológico; possuem atividade antioxidante e anti-inflamatória.
Os carotenoides são pigmentos responsáveis pela cor amarela, laranja e vermelha de muitos alimentos. Quatro tipos deles (beta-caroteno, alfa-caroteno, gama-caroteno e beta-criptoxantina) são os precursores da vitamina A. Na natureza existem mais de 900 tipos de carotenoides. Já as antocianinas são pigmentos pertencentes ao grupo de flavonoides e responsáveis pelas cores de frutas, flores e folhas que abrangem o vermelho-alaranjado, o vermelho vivo, o roxo e o azul. Sua função na natureza é proteger as flores, frutas e folhas contra os raios ultravioletas (UV) e desativar radicais livres responsáveis pelo envelhecimento e desenvolvimento de doenças crônicas (substâncias tóxicas).
A pesquisa também identificou no jenipapo e no jatobá novos iridoides, que são compostos orgânicos, com sabor amargo, que têm como principal função proteger as plantas contra seus predadores. Além disso, muitos iridoides têm propriedades antimicrobianas e antifúngicas.
De acordo com Veridiana Vera De Rosso, uma das autoras do estudo e docente no Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) – Campus Baixada Santista, nos últimos anos, evidências crescentes têm mostrado que o consumo de frutas e legumes reduz o risco de mortalidade por várias doenças, principalmente as cardiovasculares e os cânceres. “Os resultados das análises mostram o potencial tecnológico e econômico ainda inexplorado da nossa biodiversidade, principalmente para o setor alimentício e farmacêutico”, afirma. “Com políticas públicas adequadas para a agricultura sustentável, podemos melhorar a condição nutricional da população, prevenir doenças e, consequentemente, diminuir a mortalidade”.
Pequi: campeão em carotenoides
Dos 84 compostos encontrados nas nove frutas, 51 são fenólicos, entre flavonoides e ácidos fenólicos, oito são iridoides, 23 carotenoides e duas antocianinas.
O maior teor de carotenoides foi registrado no pequi (10.156,21 mg / 100 g), enquanto o principal conteúdo fenólico – composto estrutural e funcional da matéria orgânica do solo que age como protetor contra pragas e doenças nas plantas – foi encontrado no cambuci (221,70 mg / 100 g). A pitanga e a jabuticaba apresentaram mais antocianinas (respectivamente 81 mg e 45,5 mg / 100 g).
De acordo com ela, o estudo também detectou que a mesma fruta pode ter um conteúdo variado de compostos bioativos quando submetidos a diferentes tipos de cultivo e condições ambientais.
Neste caso, para o estudo, cada fruta foi colhida de três diferentes localizações de dois biomas brasileiros: Mata Atlântica e Cerrado. Como foram obtidas em áreas protegidas do Brasil ou em fazendas familiares, houve necessidade da autorização para coleta do material biológico a partir do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Cada amostra consistiu de 3 a 10 kg do fruto, de acordo com o processamento para a retirada da fração comestível para análise. Todas as frutas foram higienizadas para remover possíveis contaminantes e os procedimentos de extração foram realizados apenas com as partes comestíveis das frutas.
Para a identificação dos compostos bioativos foram empregados métodos de espectrometria de massas para elucidação das estruturas após separação por cromatografia líquida de alta eficiência.
Total de carotenoides detectado nas frutas
Fonte: Biodiversity Fruits: Discovering Bioactive Compounds from Underexplored Sources
Araçá • quantidade de carotenoides
Uruama 1 - MG | 61,44 mg/100g |
Uruama 2 - MG | 49,37 mg/100g |
Coração de Jesus - MG | 110,06 mg/100g |
Cagaita • quantidade de carotenoides
Montes Claros - MG | 305,15 mg/100g |
São João da Lagoa - MG | 319,30 mg/100g |
Arinos - MG | 269,96 mg/100g |
Cambuci • quantidade de carotenoides
Ubatuba 1- SP | 83,23 mg/100g |
Paraibuna - SP | 43,87 mg/100g |
Ubatuba 2 - SP | 81,69 mg/100g |
Jabuticaba • quantidade de carotenoides
Paraibuna 1 - SP | 152,40 mg/100g |
Paraibuna 2 - SP | 154,74 mg/100g |
Arinos - MG | 326,70 mg/100g |
Jatobá • quantidade de carotenoides
Porto Ferreira 1 - SP | 2.675,90 mg/100g |
Porto Ferreira 2 - SP | 4.074,74 mg/100g |
Montes Claros - MG | 1.171,19 mg/100g |
Jenipapo • quantidade de carotenoides
Paraibuna – SP | não detectado |
Montes Claros – MG | não detectado |
Coração de Jesus - MG | não detectado |
Mangaba • quantidade de carotenoides
Montes Claros - SP | 101,12 mg/100g |
Coração de Jesus - MG | 80,76 mg/100g |
Arinos - MG | 160,11 mg/100g |
Pequi • quantidade de carotenoides
Coração de Jesus - MG | 8.600,87 mg/100g |
Mirabela - MG | 10.156,21 mg/100g |
Arinos - MG | 6.090,66 mg/100g |
Pitanga • quantidade de carotenoides
Paraibuna - SP | 1.748,06 mg/100g |
Montes Claros -SP | 1.902,32 mg/100g |
Arinos - MG | 5.880,98 mg/100g |
Projeto Biodiversidade para Alimentação e Nutrição e a contribuição da Unifesp
Veridiana Rosso
O Projeto Biodiversidade para Alimentação e Nutrição – Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade para Melhoria da Nutrição e do Bem-Estar Humano foi iniciado em 2012 durante a realização do Congresso World Nutrition, que ocorreu no Rio de Janeiro. O evento contou com a participação de quatro países – Brasil, Quênia, Sri-Lanka e Turquia – por meio do financiamento do Global Environmental Facility (GEF) e das agências implementadoras das Nações Unidas Food and Agriculture Organization (FAO) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Cada país participante definiu objetivos de suas ações, sendo que para o Brasil foram definidos os seguintes:
• Valorizar a importância alimentícia e nutricional das espécies relacionadas com a biodiversidade agrícola;
• Resgatar o valor cultural dessas espécies;
• Ampliar o número de espécies nativas utilizadas atualmente em nossa alimentação;
• Mitigar dos problemas relacionados à dieta simplificada;
• Promover o fortalecimento da conservação e do manejo sustentável da sociobiodiversidade;
• Incorporar ações de transversalidade em programas e estratégias de segurança e soberania alimentar e nutricional.
Para alcançar os objetivos, foram estabelecidos seis eixos norteadores de ações intersetoriais:
• Análise da composição das espécies da biodiversidade (neste eixo estava incluída a organização dos resultados em um banco de dados digital);
• Avaliação do impacto de dietas diversificadas oferecidas por meio das políticas públicas relacionadas à segurança alimentar e nutricional na saúde das populações beneficiárias (PAA e Pnae);
• Desenvolvimento de ações de educação, com vistas à inclusão na dieta das escolas de produtos regionais com maior qualidade nutricional (desenvolvimento de receitas para inclusão na alimentação escolar);
• Desenvolvimento de estratégias para que a próxima POF produza dados de consumo dos alimentos regionais que são “minoritários” em termos de aquisição de alimentos no orçamento familiar (Pnan);
• Realização de levantamento de alimentos tradicionais (saberes e sabores), inclusive dados sobre as formas de preparo desses alimentos por parte dos povos e comunidades tradicionais;
• Implementação de ações institucionais que possam fortalecer e/ou implementar processos de integração/ transversalização de políticas públicas.
Para alcançar os objetivos propostos, a coordenação nacional do projeto, constituída pelo Ministério do Meio Ambiente, convidou pelo menos uma universidade federal por região do Brasil para auxiliar no desenvolvimento do projeto. A Unifesp foi convidada por meio do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar (Cecane), sediado no Campus Baixada Santista.
A participação da Unifesp deu-se em várias frentes, uma das mais significativas se refere à avaliação da composição nutricional de 12 espécies da biodiversidade da Região Sudeste. Os dados de composição nutricional de todas as espécies estudadas nas cinco regiões do Brasil foram agrupados em um banco de dados digital denominado Biodiversidade & Nutrição. Esse banco é de acesso público e permite que sejam realizadas buscas empregando o nome comum da espécie, democratizando o uso da ferramenta.
Outra frente do projeto na Unifesp foi o desenvolvimento de 78 receitas que fazem parte do livro Biodiversidade Brasileira: sabores e aromas, que é uma compilação das receitas com alto índice de aceitabilidade que foram desenvolvidas empregando as espécies da biodiversidade provenientes das cinco regiões brasileiras. As espécies da Região Sudeste foram o foco do trabalho coordenado por Semíramis Martins Alvares Domene, docente no ISS/Unifesp,e Andrea Carvalheiro Guerra Matias, docente na Universidade Mackenzie. O e-book está disponível no acervo digital do Ministério do Meio Ambiente.
Biodiversidade & Nutrição - https://ferramentas.sibbr.gov.br/ficha/bin/view/FN/
Artigo relacionado:
BIAZOTTO, Katia Regina; MESQUITA, Leonardo Mendes de Souza; NEVES, Bruna Vitoria; BRAGA, Anna Rafaela Cavalcante; TANGERINA, Marcelo Marucci Pereira; VILEGAS, Wagner; MERCADANTE, Adriana Zerlotti; ROSSO, Veridiana Vera De. Brazilian biodiversity fruits: discovering bioactive compounds from underexplored sources. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 7, n. 67, p. 1860−1876, fev. 2019. Disponível em: <https://pubs.acs.org/doi/ipdf/10.1021/acs.jafc.8b05815 >. Acesso em: 17 abr. 2019.
App com a sua “cara”
Novo aplicativo é o primeiro a utilizar dados sociodemográficos, culturais e comportamentais do Brasil para aumentar o nível de atividade física na população em geral
Texto: Ana Cristina Cocolo
Pesquisadores do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista, em cooperação com a Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e três universidades holandesas (Universidade de Amsterdã, Universidade de Ciências Aplicadas de Amsterdã e Universidade de Utrecht), estão desenvolvendo um aplicativo para celular (app) de atividade física totalmente personalizada, de acordo com as características sociodemográficas, culturais e comportamentais do Brasil e da Holanda.
O projeto, intitulado Paul (Playful Active Urban Living), vem de uma parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e a Organização Holandesa para Pesquisa Científica (NWO) e tem como objetivo desenvolver um aplicativo de smartphone inovador para aumentar o nível de atividade física de adultos.
De acordo com o fisioterapeuta e professor associado da Unifesp, Victor Zuniga Dourado, que atua nesse projeto desde 2017 como pesquisador principal no Brasil, o estudo piloto do aplicativo será realizado ainda no primeiro semestre de 2019, a princípio nas cidades de Santos (SP) e Amsterdã (Holanda). No entanto, o projeto tem parceiros em outros centros urbanos, como São Carlos (SP) e São Paulo, para tornar o estudo multicêntrico.
Dourado explica que o app pretende corrigir funcionalidades já existentes em outros aplicativos e aprimorá-las de acordo com as necessidades de cada indivíduo. “O primeiro recurso diferenciado será o uso de inteligência artificial, ou seja, o uso de mineração de dados e aprendizado de máquinas (do inglês mining e machine learning) possibilitando ao usuário interagir com o sistema”, diz. “Caso o indivíduo não responda aos estímulos enviados, o app buscará outras estratégias de incentivo para manter a prática de atividade e exercício físicos, utilizando jogos, métodos de compensação (recompensas), barras de progresso e redes sociais para criar um ambiente competitivo entre os usuários”.
O app, segundo ele, também oferecerá o máximo de técnicas de mudança de comportamento, utilizando-se da Psicologia Esportiva. Dos 25 tipos de técnicas existentes, os apps atuais exploram, em média, apenas seis.
Outro ponto inédito e que será trabalhado no projeto é a capacidade do sistema de se comunicar com os beacons em espaços públicos. Os beacons (balizas em português) são sensores que emitem informações, por meio da tecnologia bluetooth (rede sem fio), como uma espécie de GPS que consegue localizar o usuário e indicar ou sugerir uma determinada ação nos aplicativos de smartphones e tablets. “Uma das funcionalidades, por exemplo, é enviar um vídeo de tutorial de como usar os aparelhos de ginástica instalados em locais públicos, assim que o indivíduo estiver próximo a uma área que ofereça esses equipamentos”, explica Dourado. “Para isso, estamos em negociação com as prefeituras para a instalação desses sensores nas cidades que sofrerão as intervenções do projeto, como nos 7 km da orla de Santos, devido à extensa busca de cidadãos para realizar atividades físicas no local”.
Captura e cruzamento de dados
Para a elaboração do app, os pesquisadores utilizaram-se de questionários específicos e de um banco de dados contendo quatro anos (2013 a 2017) de histórico de mais de 10 mil holandeses, usuários do aplicativo de corrida Mylaps, com idades entre 18 e 65 anos. No total são cerca de 440 mil execuções de atividades dos usuários, identificados por um ID exclusivo. Entre as informações estão desde datas de execução dos exercícios até frequência e duração, clima, temperatura, vento e umidade para cada execução. Um rastreador GPS embutido no dispositivo móvel também forneceu sinais de localização que foram usados para extrair vários recursos de contexto geográfico que poderiam influenciar na atividade física.
No Brasil, a equipe aplicou, até o momento, a versão brasileira do questionário utilizado com corredores da Holanda em 245 participantes da pesquisa intitulada Estudo Epidemiológico do Movimento Humano (Epimov), realizada em Santos (SP). Quando questionados sobre o uso de aplicativos para atividade física, 23% responderam que utilizavam esse recurso. O perfil dos usuários era predominantemente masculino, mais jovens, com posição socioeconômica maior, melhor composição corporal e maior nível de atividade e aptidão física quando comparados aos não usuários de aplicativos. Diferentemente do dado da Holanda, uma das respostas às questões entre os entrevistados no Brasil e que chamou a atenção dos pesquisadores foi que 58% dos participantes responderam que nunca utilizavam o smartphone durante a atividade física por questões de segurança. Além do questionário, os participantes também tiveram avaliados a função pulmonar e vários índices de atividade física e condicionamento físico.
Com o cruzamento dos dados holandeses e brasileiros, as equipes montaram o app que passará por avaliação em fases distintas, nos dois países, com menos participantes, antes do estudo em larga escala. A primeira será a aplicação de uma pesquisa qualitativa do programa, para ajustes necessários. A segunda será um estudo piloto com o uso dos beacons.

Da esquerda para direita: Karlijn Sporel (doutoranda), Victor Zuniga Dourado, Marije Deutekom (pesquisadora principal), Ben Krose (pesquisador principal) e Nicky Nibbeling (pesquisadora associada) (Imagem: Arquivo pessoal)
Artigos relacionados:
BARBOSA, Alan Carlos Brisola; SPERANDIO, Evandro Fornias; GONZE, Bárbara de Barros; SPINA, Giovanna Domingues; ARANTES, Rodolfo Leite; GAGLIARDI, Antônio Ricardo de Toledo; ROMITI, Marcello; DOURADO, Victor Zuniga. A new equation to predict peak VO2 in obese patients during cardiopulmonary exercise testing. Clinical physiology and functional imaging, v. 38, n. 3, p. 462-467, maio 2018. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28707733 >. Acesso em: 26 de mar. 2019.
JAMAR, Giovana; GAGLIARDI, Antônio Ricardo de Toledo; ALMEIDA, Flávio Rossi de; SOBRAL, Mariana Ribeiro; PING, ChaoTsai; SPERANDIO, Evandro Fornias; ROMITI, Marcelo; ARANTES, Rodolfo Leite; DOURADO, Victor Zuniga. Evaluation of waist-to-height ratio as a predictor of insulin resistance in non-diabetic obese individuals. A cross-sectional study. Sao Paulo Medical Journal, v. 135, n. 5, p. 462-468, set./out. 2017. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29116305 >. Acesso em: 26 mar. 2019.
Instituto de Saúde e Sociedade e Instituto do Mar
Cinco unidades ajudam a suprir a demanda da região que, até 2004, só contava com instituições privadas de ensino superior e cursos isolados de uma universidade pública estadual
O Campus Baixada Santista da Unifesp é o primeiro de universidade pública, instalado em Santos em 05 de setembro de 2004, sendo resultado do processo de expansão da instituição, que buscou responder a uma demanda histórica da região, aliando a formação de profissionais qualificados à pesquisa, inovação e extensão. Em 2006 são implantados os primeiros cursos de graduação, na área da saúde, ampliando-se a oferta de novos cursos nos anos de 2009, 2012 e 2015.
Nessa trajetória, instalam-se o Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) e, mais recentemente, o Instituto do Mar (IMar/Unifesp) – Campus Baixada Santista, constituídos por cinco unidades (duas na Vila Matias, sendo uma delas o Edifício Central do campus, duas na Ponta da Praia e outra na Vila Belmiro) e abrigam 2.005 estudantes de graduação matriculados em seus nove cursos, oferecidos nas áreas de Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Terapia Ocupacional, Serviço Social, Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar (BICT-Mar), Engenharia Ambiental e Engenharia de Petróleo e Recursos Renováveis. As avaliações realizadas pelo Ministério da Educação (MEC) colocam as graduações do ISS/Unifesp e do IMar/Unifesp em posições de excelência no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), com notas 4 e 5 (na escala de 0 a 5).
Na pós-graduação stricto sensu, os institutos oferecem dez programas de mestrado e doutorado nas áreas Interdisciplinar em Ciências da Saúde; Alimentos, Nutrição e Saúde; Bioprodutos e Bioprocesssos; Ciências do Movimento Humano e Reabilitação; Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira; Serviço Social e Políticas Sociais; Ensino em Ciências da Saúde; Análise Ambiental e Interdisciplinar em Ciências do Mar. Já em lato sensu, são sete cursos nas áreas de Fisiologia do Exercício, Fisioterapia, Saúde do Idoso, Biotecnologia, Neurociências e Engenharia de Segurança do Trabalho.
A intensa formação científica e os inúmeros projetos de pesquisa também colocam o Campus Baixada Santista como um dos mais produtivos da Unifesp, com parcerias científicas com grupos de pesquisa de instituições nacionais e internacionais.
A extensão universitária inscreve-se como uma forte vocação do campus, abrangendo atualmente 12 programas sociais e 72 projetos de extensão que traduzem o engajamento de professores, técnicos e estudantes com as demandas sociais e a parceria com a comunidade na construção de uma educação superior socialmente referenciada.
Pós-graduação em números:
7 | programas de pós-graduação |
10 | cursos de pós-graduação |
6 | cursos de mestrado acadêmico |
1 | curso de mestrado profissional |
3 | cursos de doutorado |
343 | estudantes de mestrado acadêmico |
60 | estudantes de mestrado profissional |
105 | estudantes de doutorado |
137 | docentes/orientadores credenciados |
407 | estudantes titulados até 2018 |
Dados extraídos do Sistemas Integrado de Informações Universitárias (SIIU) em 28/3/2019
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Inscrições abertas até 7/6
Unifesp oferece curso de especialização em Saúde do Idoso
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