Processo eleitoral abrange os campi Baixada Santista e Osasco e as unidades universitárias do Campus São Paulo

Publicado em Notícias Arquivadas
Segunda, 07 Novembro 2016 10:01

Eleições testam limites da democracia

Hillary Clinton (democrata) e Donald Trump (republicano), candidatos à presidência, despertam desconfiança na maioria dos eleitores

Cristina Pecequilo

foto de Hillary Clinton em um discurso

Em 8 de novembro de 2016, os eleitores estadunidenses irão às urnas para escolher quem ocupará a Casa Branca a partir de 2017. Os candidatos ao pleito foram definidos nas convenções nacionais dos partidos no mês de julho: Hillary Clinton pelo Partido Democrata e Donald Trump pelo Partido Republicano. Porém, ambos não representam nomes de consenso em seus partidos e sua escolha tem gerado inúmeras críticas e fragmentações. Dos dois lados, representantes dos partidos e eleitores já anunciaram que não votarão segundo a orientação partidária, optando ou pelo outro lado ou por simplesmente não sair de casa. 

Por sua vez, Hillary e Trump seguem suas campanhas, tentando convencer todos da normalidade deste ciclo eleitoral que, na prática, já tem se mostrado um dos mais controversos. Afinal, se há tanto desconforto com relação a essas duas candidaturas, como os dois conseguiram chegar a essa reta final? Quais as particularidades do sistema estadunidense que levaram à polarização Hillary-Trump? Por que Obama será sucedido por forças que podem ser consideradas retrocesso?

 Em 2008, a eleição de Barack Obama ocorreu em um contexto de profunda crise econômica e social, reflexo das políticas militaristas no exterior e de desregulamentação doméstica do governo republicano de George W. Bush. Sustentado em um discurso de esperança e possibilidade, Obama venceu sua então adversária, Hillary Clinton (que depois viria a ser sua secretária de Estado), nas primárias, seguindo para uma vitória sólida na eleição presidencial. Jovem, afro-americano, progressista em temas sociais, Obama tornou-se o primeiro negro a ocupar a Casa Branca, conseguindo sua reeleição em 2012. 

Em termos de resultados, o presidente conseguiu recuperar a economia estadunidense, encerrar duas guerras, no Oriente Médio, Afeganistão e Iraque, e iniciar uma ofensiva de contenção aos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), mantendo a hegemonia do país. Além disso, promoveu a retomada das relações diplomáticas com Cuba e as reformas internas na lei de imigração e ampliou direitos sociais no campo da saúde, educação e gênero. 

Porém, esses sucessos não eliminaram problemas estruturais domésticos relativos à fragmentação do tecido social, marcado pela crescente queda da renda das famílias, a deterioração dos direitos trabalhistas (e rebaixamento da condição dos empregos), polarização ideológica, racial e religiosa, que se expressam em recorrentes explosões de violência internas. No exterior, a ascensão do Estado Islâmico e o desarranjo geopolítico do Oriente Médio, que gera crises como a dos refugiados, o prolongamento da guerra civil na Síria, dentre outras são pontos de estrangulamento.

É nesse vácuo que surge a candidatura de Trump e sua consolidação, primeiro subestimada, depois confirmada e agora questionada no Partido Republicano. Os Estados Unidos se recuperaram apenas parcialmente e suas fragmentações são exploradas verbalmente com violência por Trump, que vive o cenário eleitoral como um reality show, solapando seus adversários. Desde 2015, o pré-candidato, hoje candidato, tem prometido uma revolução, contra tudo e contra todos que considera não estadunidenses, externalizando os problemas do país.

Todos são inimigos, em um quadro que prega a homofobia, a misoginia e a xenofobia e poucas foram as respostas. O que muito se observou foi o silêncio e poucas manifestações corajosas, mesmo dentro de seu partido, rechaçando essa visão para os conservadores. O erro não está só em Trump, mas principalmente nesta inércia que permite que suas manifestações surjam como verdades.

 É nesse mesmo vácuo que surgiu outra candidatura que se autodenominou revolucionária, a de Bernie Sanders, que concorreu com Hillary Clinton entre os democratas e também fragmentou o partido. Com promessas classificadas como de esquerda nos Estados Unidos, Sanders prometeu a universalização dos serviços públicos, a geração de empregos, investimentos e um posicionamento contra o sistema. Tanto Trump quanto Sanders apoiaram-se em um papel midiático, que descola a política da realidade e a torna apenas populista e messiânica. Ainda assim, Sanders atraiu apenas uma parcela de jovens e eleitores brancos de maior renda, insatisfeitos, em nenhum momento consolidando-se entre a base das minorias democratas hispânica e negra. Com isso, Hillary Clinton conseguiu completar o ciclo que iniciara em 2008, interrompido por Obama.

É nesse mesmo vácuo que surgiu outra candidatura que se autodenominou revolucionária, a de Bernie Sanders, que concorreu com Hillary Clinton entre os democratas e também fragmentou o partido. Com promessas classificadas como de esquerda nos Estados Unidos, Sanders prometeu a universalização dos serviços públicos, a geração de empregos, investimentos e um posicionamento contra o sistema. Tanto Trump quanto Sanders apoiaram-se em um papel midiático, que descola a política da realidade e a torna apenas populista e messiânica. Ainda assim, Sanders atraiu apenas uma parcela de jovens e eleitores brancos de maior renda, insatisfeitos, em nenhum momento consolidando-se entre a base das minorias democratas hispânica e negra. Com isso, Hillary Clinton conseguiu completar o ciclo que iniciara em 2008, interrompido por Obama.

Hillary é o nome da continuidade pós-Obama e tradicional na política contemporânea dos Estados Unidos, cuja carreira foi construída a partir da gestão do presidente Bill Clinton (1993-2000), após o escândalo sexual que levou ao processo de impeachment em 1999/2000. Por isso, muitos a definem como carreirista, sem jogo de cintura, carisma e empatia. Clinton é uma volta ao passado recente, mas representa uma opção menos problemática que Trump. 

Os democratas buscam fortalecê-la em várias frentes: como a mulher, mãe e avó que rompeu barreiras, a competente advogada, primeira dama, senadora e secretária de Estado que trabalha incansavelmente, a futura presidente que levará estas qualidades a Washington, a opção menos pior para os republicanos moderados e os independentes e convencer os eleitores de Sanders a votar pela opção que traria menos riscos. A questão é se Hillary corresponderá a essas imagens, evitando igualar-se a Trump. Pesquisas eleitorais em agosto indicam um empate técnico, sintoma de um país polarizado.

Independente de quem vença, a campanha 2016 revela-se de baixo nível, explorando o medo, a agressividade e os preconceitos. No vácuo da ação progressista, a política assume uma lógica sem diálogo, que procura evitar o debate para gerar falsas unanimidades. A autocrítica é necessária para todos. Qualquer vitória parece ser a do retrocesso, tanto para o mundo, quanto para os Estados Unidos.

Cristina Soreanu Pecequilo é docente na Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN/Unifesp) – Campus Osasco e autora de Os Estados Unidos e o Século XXI

entrementes 14 2016  Sumário do número 14

Publicado em Edição 14